10 de janeiro de 2009

décimo oitavo

Hoje não me estendo muito mas, como diria a querida Mimi: olha meu amor, não é muito mas é de boa vontade!

Abano-me na cama de rede mais afastada da cozinha. O caderno dobrado no colo, a transpiração eterna na pele e, do rádio, uma alternância entre reggaeton e qualquer pirosada latino-romântica. Tudo está calmo. Uma cose a roupa destroçada pelo campo, outra olha o guia ornitológico da América do Sul como quem pensa em tudo menos aves. Na outra rede, uma terceira esparrama-se lendo Harry Potter e esforçando-se por não mexer um músculo. Qualquer coisa faz aquecer. No ar também não se sentem movimentos. Do cimo do telhado levantam-se ondas bruxuleantes, quase invisíveis, que me recordam por que já não aparecem por aqui os macacos. O reggaeton segue com o batuque a volume moderado. Alguns dos vizinho lagartos, de impressionante tamanho, serpenteiam devagar pelo jardim. Assim é este momento.

Fala-se de como a influência dos jesuítas em certa região da Bolívia fez manter, até hoje, uma tradição de música barroca com instrumentos criados pelos indígenas. Algo com o toque de estranheza que sempre têm as misturas – pelo menos à primeira vista. Mas, na verdade, o que é que com o tempo não se mistura? Guiada por Martin Page aprendi recentemente que as navegações portuguesas abriram em par as portas ao comércio internacional. Pode parecer básico, algo que me devia ter ficado da escola, mas a verdade é que só agora se pinta o quadro geral – ou talvez me dedique pela primeira vez a pensar o assunto em vez de decorar as frases dos livros para os testes. O caril da Índia possível por se terem levado picantes da América do Sul, o hábito do chá com bolos às cinco da tarde instituído por Catarina de Bragança na corte inglesa (chá esse vindo da China, de caravela, até Lisboa), tempura como técnica de cozinhar ensinada no Japão pelos portugueses. Tudo “very typical”. Tudo, apenas, exemplos de misturas. Para não falar em povos ibéricos, celtas, mouros e romanos. Sinto-me esmagada com tanto que temos, todos, para trás.

Os dias aqui já se sentem um pouco mais curtos. Em vez de sair às cinco e quarenta da manhã, já saímos às seis. Sim, grande alegria! Até a caminhada se faz mais animada. É interessante ver também as árvores de fruto de que se alimentam os macacos a serem substituídas umas pelas outras, à medida que eles (os frutos) amadurecem e secam. As diferentes áreas que os bichos vão preferindo em função disto mesmo. E o como agora passam tardes inteiras junto ao rio para se refrescarem com o ar menos quente. Gosto de ver o tempo a passar.

A este ponto já quase todos regressámos ao CIES. Turnos para cozinhar, para lavar, para usar o modem, acabaram-se as férias! Em breve, seguramente, se organizará o primeiro asado de 2009 e começa a avistar-se, ainda que, por enquanto, ao longe, o tempo de algumas despedidas. Porque gente vai, gente vem, é assim mesmo.

Tenho-me entretido também, sempre que posso, a filmar os macacos com uma câmara que trouxe de Lisboa. Com muita falta de arte, diga-se, mas lá vou tentando perceber como se faz a coisa. Quando souber como – e tiver tempo de antena na internet para tal – tento deixar aqui um vídeo.

Agora, como estou de folga, acho que vou ali dar um passeio às cataratas, que ainda as não vi desde que voltei e o tempo já se pôs bonito depois da tormenta de ontem.

¡hasta pronto!

2 comentários:

Aziz disse...

Usar o modem? ninguem instala um Wifi para usarem todos?
Ou serah que estas a falar dum modem de 56Kb tipo o que usava ha 5 anos atras?
E se eh o caso como fazes upload de video?
Ficam estas perguntas sobre o avanço tecnologico das comunicaçoes nesse Iguaço!
Mas aguardo ansiosamente o video no youtube :)
bjs,
Paulo

sara disse...

o Dardo trouxe um router de itália!! ainda não o montou, mas espero ansiosamente... o modem é normal, igual aos que usamos nos portáteis aí também. De qq modo um upload para o youtube é coisa para demorar 15min, ainda nao me chegou a paciência para tal!
amanha tenho dia livre, talvez me dedique à coisa.
bjs