29 de agosto de 2008

primeiro

Vou começar este princípio com a explicação da coisa. Convencida de que a vida são dois dias – temerosa que ela me ultrapassasse – meti-me num avião suíço e atravessei o atlântico. Convencida de que irá valer a dura pena de estar longe (que é real e já sinto na garganta) e que o dia-a-dia lisboeta se adaptará, apesar de tudo, à minha ausência, vim para o lado de cá. Não por amor nem por tragédia, só para estudar macacos. Há quem ache estranho, bem sei. Para mim, sair desta maneira para o novo e o desconhecido cumpre duas funções: primeiro, dissolve os inquietantes frenicoques de viajante; segundo, procura alguma hipótese naquilo que é a investigação de campo. Mantém a chama acesa. Aplico à situação a eterna máxima “só sei que nada sei”, pois que chego em branco – ou assim me sinto – a este continente novo.

Verdade, verdadinha? Vim espreitar um caminho.

Os animais que vou ajudar a estudar pertencem à subespécie Cebus apella nigritus. Referimo-nos vulgarmente a eles como macacos-capuchinho, dado terem uma mancha mais escura na pelagem do topo da cabeça, e os brasileiros chamam-lhes macaco-prego, devido ao pénis que lhes lembra a cabeça de um prego. Go figure estes brasileiros e os adondes dirigem o olhar. Para os argentinos são "monos Caí", o que pode ser um nome de origem guarani, não sei. O aspecto dos bichos é o do simpático que coloquei no cimo da página. Há muito a dizer sobre estes primatas neotropicais, muitas surpresas na sua biologia e comportamento, muitas excepções, muito para procurar ainda saber. A seu tempo explicarei com mais detalhe aquilo a que nos vamos dedicar, eu e o resto das gringas…

Escrevo neste momento de São Paulo, onde passo três dias em visita à artista e ao senhor engenheiro. Um fim-de-semana paulistano começado da melhor maneira numa pastelaria que faz buffet de pequeno-almoço como se estivéssemos num hotel. Pagamos preço fixo e depois é só atacar os diversos tipos de pães e bolinhos, os sumos, iogurtes e cereais. Uma grande alegria para quem chega de um dia inteiro de viagem que, apesar de ter corrido dentro dos conformes, me deixou algo espapassada. Agora, depois de um passeio no parque, de um dos melhores duches da minha vida (quando o cansaço aperta, o mundo relativiza-se!) e de uma precisada sesta, sinto-me bem melhor. Infelizmente não vou poder tirar fotografias da cidade porque os meus hospedeiros dizem que é arriscado andar com a Priscila pendurada ao pescoço. É pena.

Na segunda-feira, dia 1, partirei então rumo ao destino final. O Parque Nacional Iguazu, na província de Misiones, Argentina. Por estranho que pareça (ou talvez não), a minha maior apreensão não é a floresta, os animais, as outras línguas e a vida diferente. O que me apoquenta um pouco são as pessoas com quem vou trabalhar e partilhar os dias. Essa fundamental condição social. Um confesso preconceito associado à cultura norte-americana e a todos os “amazing” e “oh my god!” que daí advêm. Veremos.

Por enquanto, hoje, fico por aqui. Amanhã escrevo mais sobre São Paulo. Ainda não sei exactamente que condições internéticas terei na estação de campo na Argentina, mas conto com uma actualização semanal, pelo menos.

Resumindo, então: boa sorte a mim!

E conto com a vossa presença aqui, para me darem um cheirinho de casa.

=)